A baunilha nas artes- O poeta Gonçalves Dias dedicou à planta um poema, escrito em 1861, onde se lê (domínio público):
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- A Baunilha
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- Vês como aquela baunilha
- Do tronco rugoso e feio
- Da palmeira - em doce enleio
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- Se prendeu!
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- Como as raízes meteu
- Da úsnea no musgo raro,
- Como as folhas - verde-claro -
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- Espalmou!
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- Como as bagas pendurou
- Lá de cima! como enleva
- O rio, o arvoredo, a relva
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- Nos odores!
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- Que inspiram falas de amores!
- Dá-lhe o tronco - apoio, abrigo.
- Dá-lhe ela - perfume amigo,
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- Graça e olor!
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- E no consórcio de amor
- - Nesse divino existir -
- Que os prende, vai-lhes a vida
- De uma só seiva[30] nutrida,
- Cada vez mais a subir!
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- Se o verme a raiz lhe ataca,
- Se o raio o cimo lhe ofende,
- Cai a palmeira, e contudo
- Inda a baunilha recende!
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- Um dia só! _ que mais tarde,
- Exausta a fonte do amor,
- Também a baunilha perde
- Vida, graça, encanto, olor!
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- Eu sou da palmeira o tronco,
- Tu, a baunilha serás!
- Se sofro, sofres comigo;
- Se morro - virás atrás!
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- Ai! que por isso, querida,
- Tenho aprendido a sofrer!
- Porque sei que a minha vida
É também o teu viver.
A «flor negra» dos astecas
A história da baunilha está associada à do
chocolate. Os
astecas,[21] e já antes os
maias, decoravam com baunilha uma bebida espessa à base de
cacau. Os astecas designavam tal bebida, destinada aos nobres e aos guerreiros,
xocoatl.
[22] Porém, os astecas não cultivam nem a baunilha nem o cacau, devido ao clima impróprio. Tais produtos de luxo provinham do comércio com as regiões vizinhas. Provavelmente não dispunham do conhecimento agronómico da planta que produzia a baunilha, pois chamavam-lhe
tlilxochitl, que significa «flor negra»,
[23] embora fosse mais lógico que a chamassem «fruto negro».
Desenho da baunilheira no Códice Florentino (ca. 1580) e descrição do seu uso e propriedades escrita em
nauatle.
São os
totonacas, ocupantes das regiões costeiras do
golfo do México, próximo da atuais cidades de
Veracruz e
Papantla, quem produzia a baunilha e a fornecia aos astecas. Segundo a lenda, a liana da baunilha nasceu do sangue da princesa
Tzacopontziza («Estrela da Manhã»), no lugar onde o seu raptor, o príncipe
Zkatan-Oxga («Veado Jovem»), e ela mesma foram apanhados e decapitados pelos sacerdotes de
Tonoacayohua, a deusa das colheitas. O príncipe reencarna num vigoroso arbusto e a princesa torna-se a delicada liana de orquídea ternamente enlaçada ao seu amante.
[24] Os totonacas chamavam e chamam ainda hoje à baunilha
caxixanath, a «flor escondida», ou de modo abreviado
xanat.
[25]
Os
espanhóis descobrem a baunilha no início do
século XVI por ocasião da conquista da América Central. Não há nada que permita concluir que esta especiaria tenha sido conhecida na passagem pela América Central das várias expedições continentais iniciais, como as de
Ojeda e de
Nicuesa em 1509 ou de
Núñez de Balboa ao
Panamá em
1513, pois não foi até hoje encontrado qualquer relato sobre este assunto. Por outro lado, tudo leva a crer que o conhecimento decisivo da baunilha está efetivamente ligado à chegada dos espanhois a
Tenochtitlan, e ao encontro de
Hernán Cortés com o
tlatoani Moctezuma II, descrevendo
Sahagún os costumes e em particular o uso da baunilha para aromatizar o chocolate.
[26] A primeira referência escrita à baunilha que se conhece, bem como a primeira ilustração, constam do
Códice Florentino, escrito pelos astecas
Martín de la Cruz e Juan Badiano em
1552.[27] Esta mesma referência constitui igualmente a primeira a uma orquídea do
Novo Mundo.[26]
Fonte http://pt.wikipedia.org/wiki/Baunilha